eFX
O termo eFX, ou Electronic Foreign Exchange, refere-se à automação das operações de câmbio por meio de plataformas e interfaces de programação de aplicativos (APIs). No Brasil, o conceito foi formalmente estruturado pelo Banco Central (BCB) através da figura do prestador de serviço de eFX, consolidando um modelo onde a tecnologia substitui a necessidade de interação manual com mesas de operação bancárias.
Em vez de uma empresa contatar um banco por telefone ou e-mail para cotar e fechar uma operação, seu próprio sistema de software se conecta diretamente a uma plataforma autorizada.
O marco cambial regulatório (Resolução BCB nº 137/2021) estabeleceu que instituições autorizadas pelo BCB podem atuar como "prestadores de serviço de eFX". Essas instituições — que podem ser bancos, corretoras ou até mesmo fintechs que obtenham a licença adequada — oferecem a seus clientes (empresas, fintechs, etc.) acesso a cotações e à execução de operações de câmbio de forma eletrônica e integrada. A principal característica é a capacidade de processar um alto volume de transações de baixo valor de forma eficiente, algo inviável no modelo tradicional.
Modelo Operacional
O funcionamento do eFX é baseado na integração de sistemas, tipicamente através das etapas abaixo:
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Integração via API: A empresa cliente integra seu sistema (ERP, plataforma de pagamentos, aplicativo) à API do prestador de eFX.
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Requisição de Cotação (Request for Quote - RFQ): Quando uma operação de câmbio é necessária — por exemplo, um cliente de uma fintech solicita uma remessa internacional — o sistema da empresa envia uma requisição automática à API do eFX.
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Cotação Firme (Firm Quote): O sistema do prestador de eFX responde em milissegundos com uma cotação firme, que é válida por um curto período (geralmente de segundos a um minuto).
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Execução (Execution): Se a cotação for aceita, o sistema do cliente envia uma ordem de execução. A operação é então registrada eletronicamente nos sistemas do provedor de eFX e, por consequência, no Banco Central, sem intervenção humana.
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Liquidação (Settlement): A empresa cliente transfere os fundos em Reais (BRL) para o provedor de eFX, que por sua vez liquida a operação entregando a moeda estrangeira na conta de destino no exterior. Todo o processo de liquidação e reporte regulatório é orquestrado pelo prestador do serviço.
Vantagens Estratégicas e Novos Modelos de Negócio
A adoção do eFX não é apenas uma melhoria de eficiência, mas um viabilizador de novos negócios que antes eram economicamente inviáveis. Observa alguns exemplos abaixo:
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Escalabilidade: Permite o processamento de milhares de operações de câmbio por minuto, ideal para marketplaces, fintechs de remessa e empresas de pagamentos internacionais.
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Redução de Custos: A automação reduz drasticamente o custo operacional por transação. Os spreads tendem a ser mais competitivos devido à eficiência do modelo e à transparência das cotações eletrônicas.
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Disponibilidade 24/7: APIs podem fornecer cotações e, em alguns casos, executar ordens fora do horário bancário tradicional, dependendo da estrutura de liquidez do provedor.
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Transparência de Preços (Pricing): A empresa cliente tem acesso direto às taxas em tempo real, permitindo uma melhor gestão de custos e repasse de preços ao cliente final.
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Criação de Novos Produtos: Fintechs e outras empresas podem "plugar" uma solução de câmbio em seus aplicativos, oferecendo serviços de remessas, pagamentos de faturas internacionais ou "global accounts" sem precisar de uma licença bancária completa. Elas focam na experiência do cliente, enquanto o eFX provê a infraestrutura de câmbio.
Estudo de Caso: Lançamento de uma Fintech de Remessas
Uma startup brasileira ("EnviaFácil") deseja lançar um aplicativo para facilitar o envio de dinheiro de trabalhadores no Brasil para seus familiares em outros países da América do Sul, como Colômbia e Argentina.
Desafio no Modelo Tradicional
Para operar, a EnviaFácil precisaria de uma parceria com um grande banco. Cada remessa solicitada no aplicativo teria que ser processada manualmente por um back-office, que enviaria um lote de ordens ao banco. O processo seria lento (1-2 dias úteis), caro (spreads altos para operações de baixo valor) e a taxa de câmbio para o cliente final seria pouco transparente e atualizada com baixa frequência.
Solução com eFX
A EnviaFácil opta por não ser um banco, mas sim uma empresa de tecnologia - ela contrata um **prestador de serviço de eFX autorizado pelo BCB.
- Integração: A EnviaFácil integra o seu aplicativo à API do provedor de eFX.
- Experiência do Usuário: O usuário no Brasil abre o aplicativo, digita que quer enviar R$ 500 para a Colômbia.
- Operação eFX em Tempo Real:
- O app consulta a API do eFX em tempo real para o par BRL/COP (Peso Colombiano).
- A API retorna em menos de um segundo uma cotação firme: "R$ 500 = 450.000 COP". A cotação é válida por 30 segundos.
- O usuário concorda e confirma a operação, e o app debita os R$ 500 via Pix.
- O sistema da EnviaFácil envia a ordem de execução para a API do eFX, que automaticamente registra a operação de câmbio.
- A EnviaFácil transfere o montante em Reais para o provedor de eFX, que por sua vez garante a entrega dos 450.000 Pesos na conta de destino na Colômbia em questão de horas (ou até minutos).
A EnviaFácil consegue oferecer um serviço de remessas rápido, transparente e com taxas muito mais competitivas que as dos bancos tradicionais. Seu foco é no produto digital e na aquisição de clientes, enquanto a complexidade regulatória e a infraestrutura de câmbio são totalmente terceirizadas para o parceiro de eFX.