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Derivativos para Hedge Cambial

Já deve ter ficado claro nesse momento que os derivativos (instrumentos) para hedge cambial servem para um objetivo principal: proteger empresas e investidores da incerteza causada pela volatilidade da taxa de câmbio. Apesar de ser uma opção, o objetivo não é especular ou tentar lucrar com a variação cambial, mas sim netruralizar o efeito dela nas operações de câmbio.

Nota: utiliza-se o termo derivativo significa porque o valor deriva da taxa de câmbio entre duas moedas.

Hedge Natural

É uma estratégia operacional e interna onde a empresa utiliza seus próprios fluxos de caixa para mitigar o risco cambial.

Basicamente consiste em "casar" as receitas em moeda estrangeira com as despesas na mesma moeda estrangeira. Ao fazer isso, a empresa reduz sua exposição líquida, que é o valor que de fato precisa ser convertido e que está sujeito à variação do câmbio.

Na prática, é muito raro a empresa conseguir casar os volumes e prazos de suas receitas e despesas em moeda estrangeira. Mas como é uma estratégia operacional simples e eficaz, toda empresa com operações internacionais deve implementar, junto com as ferramentas a seguir.

Câmbio futuro

Enquanto o Câmbio Pronto atende a necessidades imediatas, o Câmbio Futuro é a principal ferramenta para empresas que precisam de previsibilidade e segurança para suas operações que serão liquidadas no futuro.

Formalmente falando, e também conhecido como Forward, o Câmbio Futuro é um contrato financeiro vinculativo entre uma empresa e uma instituição financeira. Nele, as partes se comprometem a comprar ou vender uma quantia específica de moeda estrangeira em uma data futura (qualquer prazo acima de 2 dias úteis), a uma taxa de câmbio pré-definida hoje.

O funcionamento da operação pode ser dividida em duas estapas:

  1. Trava do preço: A empresa e o banco negociam e fixam hoje a taxa de câmbio para a data de liquidação futura. Essa taxa não mudará, não importa o que aconteça com o mercado.

  2. O Cumprimento do Contrato: Na data de vencimento combinada, a empresa e o banco são obrigados a honrar a transação na taxa acordada, independentemente de qual seja a cotação da moeda no mercado à vista (spot) nesse dia.

Importante que a taxa futura negociada não é um "chute" ou previsão da instituição financeira, mas sim calculada com base no preço de hoje da moeda e o valor da diferença dos juros (e.g. CDI) entre as moedas para o período contratado.

Estudo de caso - Exportação

  • Cenário: Uma empresa brasileira de celulose fecha uma venda de US$ 10 milhões para a China e receberá o pagamento em 120 dias.
  • Risco: A empresa teme que o dólar caia nos próximos meses, o que reduziria sua receita em Reais.
  • Ação (Hedge com Câmbio Futuro):
    • A tesouraria da empresa vai ao banco e fecha um contrato de venda de câmbio futuro de US$ 10 milhões para 120 dias, a uma taxa travada de, por exemplo, R$ 5,30.
    • Daqui a 120 dias: A empresa recebe os US$ 10 milhões de seu cliente. Ela os entrega ao banco e o banco, conforme o contrato, deposita R$ 53 milhões na conta da empresa. Isso acontecerá mesmo que o dólar no mercado esteja a R$ 5,00 ou R$ 5,60.
  • Resultado: A empresa eliminou a incerteza e garantiu sua receita e margem de lucro.

Estudo de caso - Importação

  • Cenário: Uma indústria farmacêutica precisa importar um insumo da Índia no valor de US$ 2 milhões, com pagamento para 90 dias.
  • Risco: A empresa teme que o dólar suba nos próximos meses, o que aumentaria seu custo de produção em Reais.
  • Ação (Hedge com Câmbio Futuro):
    • A empresa fecha um contrato de compra de câmbio futuro de US$ 2 milhões para 90 dias, a uma taxa travada de, por exemplo, R$ 5,25.
    • Daqui a 90 dias: A empresa entrega R$ 10,5 milhões (2 milhões x 5,25) ao banco, e o banco envia os US$ 2 milhões para o fornecedor na Índia.
  • Resultado: A empresa fixou seu custo de produção hoje, protegendo seu orçamento de uma alta do dólar.

NDF

Um NDF (Non-Deliverable Forward) é um contrato de câmbio futuro sem entrega física da moeda.

Isso significa que as partes combinam uma taxa de câmbio para uma data futura, mas, no dia do vencimento, ninguém entrega ou recebe o montante total em dólares ou reais. A liquidação é puramente financeira, baseada apenas na diferença entre a taxa que foi combinada no contrato e a taxa de referência do mercado no dia.

Estudo de caso

  • Cenário: Uma empresa importadora precisa pagar uma fatura de US$ 100.000 daqui a 30 dias. O dólar hoje está R$ 5,20, mas a empresa teme que ele suba.
  • Ação (Hedge com NDF):

    • A tesouraria da empresa entra em contato com um banco e fecha um contrato de compra de NDF de US$ 100.000 para 30 dias a uma Taxa NDF de R$ 5,25.
    • Nenhum dinheiro troca de mãos neste momento.
  • Resultado em 30 Dias com a subida do dólar para R$ 5,40: Nesse caso, a importadora receberá do banco R$ 15.000 reais pela diferença das taxas (R$ 5,40 - R$ 5,25), e utilizará esse valor para cobrir o custo maior para comprar os dólares.

  • Resultado em 30 Dias com a queda do dólar para 5,15: No caso de queda, a importadora pagará ao banco R$ 10.000 reais pela diferença das taxas (R$ 5,15 - R$ 5,25), e será ressarcida pelo ganho ao comprar os dólares.

Observa que independente do cenário, a empresa importadora manteve a taxa do dólar travada em R$ 5,25 através do NDF.

Opções

Uma opção é um contrato que dá ao seu comprador o direito, mas não a obrigação, de comprar ou vender uma moeda a um preço pré-determinado em uma data futura. Essa diferença entre direito e obrigação é o que torna as opções uma ferramenta distinta de outros instrumentos de hedge, como o contrato a termo (NDF) ou o contrato futuro.

Existem três elementos principais ao negociar opções:

  • Prêmio: É o custo da opção, ou seja, o valor que o comprador paga para adquirir o direito.
  • Preço do exercício (strike price): É basicamente a taxa de câmbio pré-acordada no contrato.
  • Data de vencimento: É a data limite que o comprador tem para exercer o direito.

Estudo de caso - Opção de Compra

  • Cenário: Um importador que precisa pagar US$ 100.000 em 90 dias, com o dólar a R$ 5,20, teme que a cotação suba para R$ 5,50.
  • Ação: Ele compra uma opção de compra (call option) com strike de R$ 5,25 e paga um prêmio por isso.
  • Resultado em que o Dólar sobe para R$ 5,50: O importador exerce seu direito e compra os dólares a R$ 5,25, economizando R$ 0,25 por dólar. Seu custo máximo ficou travado.
  • Resultado em que o Dólar cai para R$ 5,10: O importador não exerce seu direito (seria mais caro) e simplesmente compra os dólares no mercado à vista por R$ 5,10. Ele se beneficia da queda e sua única "perda" foi o prêmio pago pela opção.

Estudo de caso - Opção de Venda

  • Cenário: Um exportador que irá receber US$ 100.000 em 90 dias, com o dólar a R$ 5,20, teme que a cotação caia para R$ 5,00.
  • Ação: Ele compra uma opção de venda (put option) com strike de R$ 5,15 e paga um prêmio por isso.
  • Resultado em que o Dólar cai para R$ 5,00: O exportador exerce seu direito e vende seus dólares a R$ 5,15, garantindo uma receita maior. Sua receita mínima ficou travada.
  • Resultado em que o Dólar sobe para R$ 5,40: O exportador não exerce seu direito e vende seus dólares no mercado à vista por R$ 5,40, aproveitando a alta. Sua única "perda" foi o prêmio pago.

Swap cambial

O Swap, no mercado financeiro, é literalmente um contrato entre duas partes que concordam em trocar fluxos de caixa futuros com base em indexadores diferentes. Pensando no contexto cambial, Swap é usado para se proteger contra a variação de uma moeda estrangeira, como o dólar. A troca geralmente envolve a variação cambial de um lado e uma taxa de juros (como o CDI) do outro.

Estudo de caso

  • Cenário: Uma exportadora com US$ 1 milhão a receber com taxa de câmbio pronto de R$ 5,20 em 90 dias com uma receita potencial de R$ 5.200.000.
  • Ação: A empresa faz um swap cambial com um banco trocando a taxa de câmbio por uma taxa fixa de 5,1%.
  • Resultado em que o Dólar sobre para R$ 5,50:
    • Na venda do dólar por R$ 5,50, ele ganha +R$ 300.000.
    • No swap, ele paga os R$ 300.000 da variação ao banco e recebe os R$ 265.200 da taxa fixa (5,1%).
    • Resultado Final: R$ 5.465.200
  • Resultado em que o Dólar cai para R$ 4,90:
    • Na venda física, ele perde -R$ 300.000.
    • No swap, ele recebe R$ 300.000 da variação e também recebe os R$ 265.200 da taxa fixa (5,1%).
    • Resultado Final: R$ 5.465.200

Observa que nos dois casos, o resultado foi travado, eliminando o risco cambial.

Conclusão

Ao fazer um hedge, a empresa troca um ganho potencial por proteção contra uma perda desastrosa. Cada instrumento oferece um balanço diferente entre custo, flexibilidade e obrigação, adaptando-se a cada necessidade. No fim, o hedge permite que a gestão foque no seu negócio principal, em vez de especular sobre os rumos do mercado.