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Tesouraria corporativa

A área de tesouraria de uma empresa gerencia o fluxo de caixa da empresa ao controlar as entradas, saídas e a gestão de contas a pagar e a receber, garantindo a liquidez. Adicionalmente, administra o relacionamento com bancos para captação e aplicação financeira, tendo como objetivo principal a otimização dos recursos da organização.

Por outro lado, a tesouraria em uma instituição financeira do mercado de câmbio possui um escopo mais complexo, onde sua função primordial é a gestão das posições em moedas estrangeiras e o controle do risco de mercado, operando diretamente na compra e venda de moedas para clientes e para o caixa próprio.

Mesa de Operações

A Mesa de Operações é a área funcional responsável pela execução de compra e venda de moedas. As decisões são tomadas em tempo real com base nas condições do mercado interbancário, no fluxo de ordens de clientes e em análises econômicas.

Atendimento ao cliente

Esta é a principal atividade da Mesa serviço, focada em atender às necessidades de moeda estrangeira de seus clientes — tipicamente importadores, exportadores e investidores.

O processo de atendimento a um cliente geralmente segue estes passos:

  1. Solicitação: Um cliente, como uma empresa que precisa pagar por uma importação, contata a Mesa para obter uma cotação de compra de dólar.
  2. Preço: O operador da Mesa acessa suas plataformas de negociação (como o sistema da B3 ou cotações diretas de outros bancos) para verificar o preço de "custo" da moeda naquele exato momento.
  3. Spread: A este custo, o operador adiciona a margem de lucro da instituição, o spread. Este não é um valor fixo; ele é influenciado conforme o perfil do cliente, por exemplo: volume da operação, volatilidade do mercado, relacionamento, recorrência de operações, etc.
  4. Fechamento: O operador informa a taxa final ao cliente. Se houver o aceite, a operação é formalmente "fechada". Neste momento, a instrituição assume o compromisso de entregar a moeda estrangeira vendida e o cliente, de pagar o valor correspondente em reais.

Tesouraria e Arbitragem

Nesta frente, a Mesa atua como um centro de resultado, utilizando o capital do próprio para gerar lucros diretamente das movimentações do mercado. As estratégias mais comuns são:

  • Posição (Trading Direcional): Esta atividade se baseia em uma tese sobre o comportamento futuro do mercado. Se a análise do banco sugere uma alta do dólar, por exemplo, a Mesa pode comprar a moeda para vendê-la a um preço superior mais tarde. Esta estratégia envolve um risco direcional claro (o mercado pode ir contra a posição) e, por isso, é estritamente monitorada e limitada pela área de Gestão de Risco do próximo tópico.

  • Arbitragem: Consiste na exploração de pequenas e breves diferenças de preço para a mesma moeda em diferentes mercados. O objetivo é realizar operações simultâneas para travar um lucro sem se expor à variação do mercado.

Gestão de Risco de Mercado e de Liquidez

Enquanto a Mesa de Operações tem o objetivo de gerar resultado, a área de Gestão de Risco tem a missão de proteger o capital do banco. Ela não gera lucro, mas o preserva, garantindo que as atividades de negociação não exponham a instituição a perdas excessivas ou catastróficas.

Risco de Mercado

O risco de mercado surge sempre que o banco tem uma posição em aberto, ou seja, quando o volume de moeda estrangeira que ele comprou é diferente do volume que ele vendeu.

Exemplo, se a Mesa compra 10 milhões de dólares de clientes exportadores, mas vende apenas 8 milhões para importadores, o banco fica com uma "posição comprada" de 2 milhões de dólares. Se o preço do dólar cair, o banco terá uma perda financeira sobre essa posição.

O gerenciamento do risco é realizado basicamente por duas estratégias:

  • Estabelecimento de limites: A área de Risco define limites claros e rígidos para o tamanho da posição que a Mesa de Operações pode carregar (e.g. limite de posição, limite de perda, modelos estatísticos de análise de carteira, etc.).

  • Monitoramento: A área de Risco monitora continuamente as posições da Mesa para garantir que estão operando dentro dos limites aprovados. Se um limite é violado, a área de Risco tem autoridade para exigir que a Mesa reduza sua exposição imediatamente.

Risco de Liquidez

Este é o risco de que uma transação não seja concluída com sucesso na data de vencimento, ou seja, que uma das partes não entregue o que foi combinado. Isso pode acontecer tanto porque a contraparte não honrou sua obrigação, ou por alguma falha de algum processo interno da instituição.

O gerenciamento do risco é realizado principalmente por três frentes:

  • Análise de Crédito: Antes de operar com um cliente ou outro banco, a área de Risco avalia sua saúde financeira e estabelece um limite de crédito, ou seja, um valor máximo de operações em aberto que podem ser mantidas com aquela contraparte.

  • Processos de Confirmação (Back-Office): Após a Mesa fechar uma operação, uma área de suporte (Back-Office) entra em ação. Sua função é contatar a contraparte para confirmar todos os detalhes da transação (valor, moeda, data, contas bancárias). Esse processo de "bate-pronto" ou conciliação prévia é crucial para identificar qualquer erro antes da data de liquidação.

  • Monitoramento da Liquidação: No dia do vencimento, a área acompanha ativamente as contas para garantir que os recursos foram recebidos e enviados corretamente, solucionando qualquer problema que possa surgir.

Captação e Gestão de Caixa Internacional

Esse tópico aborda como a instituição garante que terá a moeda estrangeira para vender (o suprimento) e como gerencia as contas onde essa moeda é efetivamente movimentada. A função se divide em duas atividades interdependentes:

  1. Captação de Recursos (Funding): Refere-se a como o banco garante seu acesso a moedas estrangeiras. O principal mecanismo é a contratação de linhas de crédito com bancos correspondentes no exterior, que asseguram a disponibilidade de recursos para operações de maior volume. O banco também pode obter moeda no mercado local, como na B3, para suprir necessidades imediatas.

  2. Gestão de Caixa Internacional: É a administração das contas bancárias que o banco mantém em outros países, chamadas de Contas Nostro.

    • Função: Essas contas são usadas para efetivamente receber e enviar os pagamentos internacionais. Quando a instituição compra uma moeda, ela entra na respectiva Conta Nostro; quando vende, o pagamento ao beneficiário final sai dessa conta.
    • Gestão: Envolve a conciliação diária de todas as transações e a otimização dos saldos para garantir segurança e eficiência, evitando manter dinheiro ocioso ou correr o risco de falta de recursos para liquidação.